No capítulo de conclusão do método de Fernando Sor (1830), após grandes explanações acerca dos diversos pensamentos sobre a música e a técnica, há uma seqüência de conceitos – que são reflexões realmente de um “proprietário de um cérebro” – e resolvi traduzí-los para o português.
Minha tentativa foi trazer o texto para uma terminologia mais moderna sem perder a caráter original (tradução em inglês do A. Merrick):
- Considere o efeito da música mais do que exaltar habilidade como performer;
- Exija mais da destreza do que da força;
- Economize as pestanas e os saltos;
- Considere a digitação uma arte e seu objetivo é: encontrar as notas necessárias próximas dos dedos que deverão pressioná-las, sem a necessidade de distendê-los no propósito de encontrá-las;
- Nunca ostente dificuldade ao tocar, fazendo isto você será retribuído com ainda mais dificuldade – que é o que não queremos;
- Nunca dê trabalho aos dedos mais fracos enquanto os fortes estão sem fazer nada;
- Nunca segure um dedo [da mão esquerda] por um tempo maior do que o necessário. Quando duas ou três notas são tocadas em seqüência ascendente, na mesma corda, a segunda abafa o som da primeira (e a terceira o som da segunda). Ao deixar o dedo da segunda nota cair na corda, e levantar [o dedo] que tocou a primeira, duas ações são feitas ao invés de uma, e tem o risco de levantar muito brevemente o dedo – que diminuiria a pureza do som. Se a seqüência é descendente, pressione a corda (o dedo já deve estar bem posicionado sobre a nota) e nos resta a ação de levantar o dedo para parar a nota mais aguda. Isto é uma economia de movimento;
- Evite movimentos [de rotação] laterais [da mão e punho esquerdo enquanto realiza, por exemplo, uma escala]. Deixe uma direção paralela entre a linha que forma as pontas dos dedos e as cordas. [Atualmente denominamos como apresentação longitudinal dos dedos]. Quando os dedos estão dispostos de maneira diversa a necessidade de uma passagem, coloque o punho [e cotovelo] a fim de obter uma linha reta entre os dedos 1 e 4 e a corda. Deixe o punho com o mínimo de movimento e disponha cada dedo no local que eles irão tocar;
- Quando a questão é uma grande distensão dos dedos para alcançar uma nota no braço, e o dedo 4 estiver segurando uma extremidade, vá até a outra extremidade com o dedo mais longo;
- Ao se deparar com um posicionamento difícil, pesquise o(s) local(is) menos inconveniente(s) para o(s) dedo(s) mais fraco(s) e deixe a tarefa árdua para os mais fortes;
- Quando for necessário apresentar a sua mão esquerda com uma linha reta entre os dedos 1 e 4 e o traste, ao invés da corda, [apresentação transversal] faça com que esta mudança dependa mais do cotovelo do que do movimento do punho;
- Use a razão para grandes obstáculos, e a rotina para nada.
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